O Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE) passa a ter neste mês de junho a socióloga Adriana Marcolino como diretora-técnica no instituto. O até então diretor técnico, Fausto Augusto Júnior, deixou o Dieese para compor a presidência do Conselho Nacional do Sesi a pedido do ministro do Trabalho e Emprego, Luiz Marinho.
Com a nova composição, o Dieese passa a ter duas mulheres no comando principal. Na presidência, a sindicalista Maria Aparecida Faria, dos Servidores Públicos da Saúde no Estado de São Paulo, e agora na diretoria técnica Adriana, que é socióloga e doutoranda em Sociologia do Trabalho na Universidade São Paulo (USP).
Embora o cargo seja novo, a história de Adriana no Dieese é de muita consistência. A socióloga chegou ao instituto em 1998. Durante vários anos atuou na assessoria de ponta, nas subseções em entidades de classe.
Nos últimos 10 anos e até 2022, seu trabalho se concentrou principalmente junto ao Fórum das Centrais Sindicais, colaborando na elaboração da plataforma das Centrais, na construção da Pauta Unitária e também no encaminhamento de propostas de âmbito nacional.
Um dos objetivos e principais trabalhos da diretoria-técnica é garantir que aquilo que é dialogado com o movimento sindical se desdobre em pesquisas e propostas do instituto, e também do centro de formação.
Adriana falou com a redação da CUT Brasil e explicou o que o novo período deve representar. Confira:
CUT: Adriana, como serão os trabalhos daqui em diante no Dieese? Haverá mudanças no que está sendo feito?
Adriana Marcolino: O Dieese possui um planejamento trienal, elaborado a partir de vários processos de escuta. Nesse momento, estamos no meio desse planejamento, e a ideia é dar continuidade ao que já foi proposto. Nos últimos anos, passamos por algumas reestruturações.
Temas que foram importantes para o país deixaram de ser nos governos Temer e Bolsonaro. Alguns temas foram reduzidos. Então, embora a ideia seja dar sequência ao trabalho que já está sendo feito, eu quero aprofundar em outros que estão ganhando relevância para a classe trabalhadora.
CUT: Quais temas são esses?
Adriana Marcolino: O primeiro deles são as novas tecnologias e o impacto delas no mundo do trabalho, particularmente como as tecnologias de informação e o trabalho por plataformas estão precarizando os empregos.
Outro é a transição ecológica. Se tudo der certo o Brasil conseguir avançar de fato nesse setor, o impacto na classe trabalhadora será grande. É preciso garantir uma transição justa, como a CUT vem falando. E nós do Dieese devemos colaborar mais com esse debate.
Por último, pensando em pelo menos três grandes temas, é a questão da informalidade. Sabemos que o movimento sindical tem a missão de olhar mais para esses trabalhadores e trabalhadoras, e nós do Dieese devemos produzir mais subsídio para os sindicatos saibam como atuar com esses grupos.
CUT: Adriana, sabemos que todo instituto de pesquisa tem o desafio de “falar para fora”. Ou seja, de conseguir traduzir as suas pesquisas para uma linguagem que um público mais abrangente consiga compreender. Como você pretende enfrentar essa questão, de conseguir comunicar o que o Dieese faz?
Adriana Marcolino: Sabemos que hoje o apelo é por uma informação rápida, de coisas muito telegráficas, muito curtas, muito resumidas. Por outro lado, para se apropriar de um conhecimento sobre o mundo do trabalho é necessário um grau de detalhamento. Então de fato temos esse desafio de colocar essas informações nas redes, que tem um perfil de informação concentrada.
O Dieese é baseado no tripé de consultoria, formação e pesquisa. Devemos dar mais atenção nesse período nas linhas de formação da escola do Dieese, para que esse conhecimento que produzimos seja replicado e se transforme em ação. Conseguimos financiamento para jogar peso em formações de alto nível para os dirigentes nesse momento.
CUT: Pessoalmente, você sempre deu uma contribuição importante para as pesquisas e dados que tratassem da questão de gênero, especialmente sobre as mulheres. Isso deve ganhar relevância nesse momento?
Adriana Marcolino: Certamente. O Dieese tem o desafio de tornar as suas pesquisas mais interseccionais, trazendo as questões de raça e gênero como linhas transversais de tudo o que fazemos. Isso é exercício de atualização e renovação imprescindível. Nós somos um espaço de diálogo social que deve sempre ampliar o debate sobre as questões da classe trabalhadora na esfera pública, e sem raça e sem gênero não podemos fazer nenhum debate.
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