Nas redes sociais a hashtag #BolsonaroDay ganhou destaque nessa quarta-feira, 1o de abril, dia da mentira. Declarações recentes do presidente, constantes recuos e posicionamentos políticos que não levam em conta os fatos, como sua defesa pelo fim do isolamento social recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), fazem com que muitos colem à imagem de Jair Bolsonaro a de um mentiroso. A CPI de fake news que investiga um esquema de notícias falsas que teriam auxiliado a eleição do presidente também entram nessa conta.
Para provar seus pontos de vista em meio a crise provocada pelo novo coronavírus (covid-19), Bolsonaro ontem publicou um vídeo editado do diretor-geral da Organização Mundial de Saúde (OMS) que sugeria o incentivo ao fim do isolamento social. A situação fez com que a OMS divulgasse resposta desmentindo Bolsonaro. Ironicamente, nessa quarta, 1o, Bolsonaro ajudou a compartilhar outra mentira. Publicou um vídeo de um suposto funcionário da Ceasaminas que mostrava um grande galpão vazio sugerindo uma crise de desabastecimento em curso. A CBN foi ao local e desmentiu a versão postada por Bolsonaro que logo apagou a publicação de sua conta no Twitter. Por falar em Twitter, a rede social apagou postagens do presidente consideradas inadequadas por espalhar notícias falsas e que colocam a vida de outras pessoas em risco. Facebook e Instagram fizeram o mesmo.
Outros membros do governo também corroboram para espalhar mentiras. Em um só discurso a empresários, o ministro da Economia, Paulo Guedes, quando chamou servidores de parasitas, ajudou a disseminar várias informações falsas a respeito dos servidores e dos serviços públicos. Essas mentiras, não foram inventadas por eles, mas são reforçadas sistematicamente e recontadas o que contribui para que a população se volte contra servidores e os próprios serviços públicos a que tem direito assegurado pela Constituição. Selecionamos seis grandes mentiras que boicotam o funcionalismo público e ajudamos a desmentí-las com dados. Confira:
1) A máquina pública é inchada
Os números oficiais do próprio governo mostram que a quantidade de servidores hoje no Brasil é praticamente a mesma que na década de 90. Enquanto a população do Brasil cresceu, como mostra o IBGE, a quantidade de servidores para atender às demandas de mais de 200 milhões de brasileiros diminuiu e está no menor número dos últimos 20 anos. Além disso, o número de servidores por habitante no Brasil é menor até mesmo que em países reconhecidamente ultraliberais e privatistas como é o caso dos Estados Unidos.
2) Servidores públicos são privilegiados
O conceito de privilégio que tentam colar em todo servidor público é perverso. Uma pequena parcela do funcionalismo recebe benefícios que devem, sim, ser questionados pela sociedade. Exemplos temos vários. Os chamados auxílio paletó, auxílio moradia a quem já possui casa própria. Até mesmo pensões vitalícias para filhas de militares. Mas todos esses benefícios não refletem a realidade da maioria absoluta do funcionalismo, a dos servidores que atendem diretamente a população. No Executivo Federal, por exemplo, mais de 60% não recebem mais do que o teto do INSS (R$6.101) e enfrentam dificuldades enormes no dia a dia com o sucateamento e a falta de infraestrutura para dar conta de atender às demandas da população.
3) O Estado gasta mais de 90% com funcionalismo
Essa mentira foi dita pelo próprio ministro da Economia, Paulo Guedes, quando chamou servidores públicos de parasitas. A declaração gerou revolta, o ministro recuou e chegou a pedir desculpas, mas o fato é que em seu discurso para um grupo de empresários lançou uma série de inverdades sobre o setor público. Uma delas foi que a União gastaria 90% de seu orçamento com funcionalismo. Algo completamente impensável. Desde que foi criada a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), os gastos com funcionalismo estão bem abaixo do que a própria lei determina, até 51% do PIB. Esses valores seguem controlados ao longo das últimas décadas não chegando a 45%. Na pizza orçamentária o governo prefere dar destaque a gastos com Previdência e funcionalismo enquanto, na verdade, mais de 40% de tudo que o Brasil arrecada vai para o pagamento de juros da dívida pública. Enquanto os dois primeiros atendem toda a população, os juros da dívida enriquecem apenas uma meia dúzia de, esses sim, privilegiados.