Mesmo com a pressão de setores do governo para que os servidores públicos contribuam com o esforço para superar a crise econômica tal como acontece com os trabalhadores da iniciativa privada, que podem ter redução salarial de até 70%, do ponto de vista político há quem acredite que se trata de criar mais um problema num momento em que o Poder Executivo está repleto deles. Isso, porém, não representa que o funcionalismo será de alguma forma poupado de dar seu esforço.
“Independentemente de a iniciativa privada estar sofrendo, a discussão sobre salário de servidores nesse momento não leva a lugar algum”, salientou Alex Agostini, economista-chefe da Agência Austin Rating, acrescentando, porém, que o assunto voltará à pauta mais adiante.
“Tão logo tudo isso passe, creio que talvez em agosto ou setembro o governo retoma o debate sobre a PEC Emergencial, que trata de mudanças muito mais significativas no serviço público”, disse.
Para Agostini, apesar da pressão de diversas carreiras do serviço público, não conseguirão protelar a necessidade de reforma administrativa por mais tempo. “O ajuste das contas públicas deve voltar à tona até dezembro se houver melhora na infecção. Agora, a preocupação é com a recuperação da atividade e quanto tudo isso está afetando o lucro e os resultados no mundo inteiro”, destacou.
André Perfeito, economista-chefe da Corretora Necton, também enfatiza que “quaisquer que sejam as medidas, que tenham objetivo de mexer em situações específicas com servidores, ficarão congeladas”. O que importa agora é a sobrevida do setor empresarial.
“Tudo que o governo não precisa agora é conflito ou desgaste. Mesmo depois da pandemia, creio que a prioridade é a reforma tributária, muito mais urgente que a reforma administrativa”, apontou.
Já o Ministério da Economia informou que “não comenta medidas em análise ou que ainda não são públicas”. Porém, a Secretaria de Gestão e Desempenho de Pessoal da pasta suspendeu para os servidores em teletrabalho, desde 26 de março, o pagamento de horas extras, de auxílio-transporte, de adicionais de insalubridade e de periculosidade, as gratificações por atividades com raios-X ou substâncias radioativas, além de adicional de irradiação e adicional por trabalho exceto para os que comprovarem o serviço noturno remoto das 22h às 5h.
“A suspensão é válida enquanto perdurar a situação de emergência na saúde pública motivada pelo coronavírus. O impacto estimado da suspensão dos benefícios nas contas públicas, para o período de 90 dias, é de R$ 156,7 milhões”, apontou.
Por Vera Batista
Fonte: Correio Braziliense