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A Internacional de Serviços Públicos (ISP), entidade da qual a Condsef/Fenadsef é filiada, compartilhou uma declaração de solidariedade em apoio aos servidores públicos dos Estados Unidos. A nota foi enviada a sindicatos que enfrentam o governo de Donald Trump para defender os serviços públicos e os direitos dos trabalhadores.
A ofensiva contra o setor público vem sendo movida e incentivada pelo conselheiro do presidente Trump e dono do X, antigo Twitter, o bilionário Elon Musk. Apenas em uma semana, ao menos 10 mil trabalhadores de diversas áreas da administração federal, atingindo setores como Energia, Educação, Saúde e Serviço Florestal, foram demitidos na última semana.
O anúncio dessas demissões, noticiadas pela impresa americana, incluindo agências como Reuters e Associated Press, vem na sequência de outra ação do governo Trump que ofereceu indenizações a servidores para que deixassem de forma voluntária seus cargos.
“Esse ataque aos serviços públicos essenciais foi uma manobra calculada para desestabilizar a capacidade do estado de servir os seus cidadãos, abrindo ao mesmo tempo o caminho para planos de privatização que beneficiam os aliados empresariais em detrimento das famílias trabalhadoras”, destaca a ISP em trecho de sua declaração de solidariedade aos servidores dos EUA.
Confira a íntegra a seguir:
Declaração de solidariedade
A Internacional de Serviços Públicos (ISP) solidariza-se com os sindicatos dos EUA sob ataque
Ao testemunharmos os perigosos ataques da direita contra os trabalhadores, a Internacional dos Serviços Públicos (ISP) e os nossos membros em todo o mundo manifestam uma solidariedade inabalável com todos os trabalhadores nos Estados Unidos.
Reconhecemos as graves ameaças colocadas pelas políticas do governo Trump, que visam minar os direitos dos trabalhadores organizados, particularmente dos mais vulneráveis entre nós: mulheres, negros, pessoas LGBT e imigrantes.
Estas políticas desumanas são uma afronta aos valores de igualdade, equidade e justiça que tanto prezamos em nosso movimento.
A administração Trump está levando a cabo uma campanha cruel e sem sentido contra os migrantes sem documentação, não violentos e não criminosos. Isto inclui algemá-los, colocá-los em aviões militares, separar famílias, deter crianças em condições deploráveis e utilizar o sofrimento humano como espetáculo político. Isso chocou a consciência do mundo.
Estas ações moralmente reprováveis são uma tentativa deliberada de nos desumanizar e dividir.
A temerária decisão do governo Trump de suspender o financiamento federal – que foi tão profundamente impopular que teve de ser imediatamente revertida –, demonstra um flagrante desrespeito pelo bem-estar do povo estadunidense. Esse ataque aos serviços públicos essenciais foi uma manobra calculada para desestabilizar a capacidade do estado de servir os seus cidadãos, abrindo ao mesmo tempo o caminho para planos de privatização que beneficiam os aliados empresariais em detrimento das famílias trabalhadoras.
A retórica e as ações perigosas da administração culpam os esforços de diversidade, equidade e inclusão (DEI em inglês) pela ocorrência de tragédias – como o acidente entre o avião e o helicóptero em Washington, D.C. – em vez de abordar as causas profundas: subfinanciamento crônico e falta de pessoal nas agências críticas como a Administração Federal de Aviação (FAA).
Este desvio deliberado faz parte de uma estratégia mais ampla para degradar os serviços públicos, criando uma narrativa falsa que justifica a privatização de funções essenciais. Estas ações não são mera incompetência: são ataques premeditados aos próprios alicerces da nossa democracia.
Apesar destes desafios, somos encorajados pela incrível força e resistência dos trabalhadores.
Nos Estados Unidos, estamos assistindo a uma onda sem precedentes de organização dos trabalhadores e de greves. Os sindicalistas da Federação Estadunidense de Professores (AFT) estão lutando contra o assédio por parte das autoridades de imigração.
A AFT lançou um extenso conjunto de ferramentas para proteger os estudantes e as comunidades do assédio racista, e já estão surgindo histórias de educadores da AFT e do pessoal de apoio escolar que impediram os agentes do ICE (Serviço de Imigração e Alfândega dos Estados Unidos) de entrar nas escolas.
Além disso, a AFT e a sua afiliada em Oregon estão organizando uma greve histórica para exigir melhores condições para os profissionais de saúde e para os pacientes. À medida que a crise climática se agrava, os sindicalistas são os primeiros a responder, prestando serviços essenciais às pessoas afetadas pelos desastres climáticos na Carolina do Norte e na Califórnia.
Também temos orgulho de destacar o trabalho incansável das nossas afiliadas, unidas na defesa dos serviços públicos e dos direitos dos trabalhadores. Os sindicatos lançaram uma campanha multifacetada para defender a democracia americana nas ruas e nos tribunais.
As nossas afiliadas estão assumindo estrategicamente a responsabilidade de liderar uma série de confrontos jurídicos sobre toda a gama de ataques aos serviços públicos para o povo estadunidense. A Federação Estadunidense dos Servidores Públicos (AFGE) e a Federação Estadunidense dos Servidores Públicos Municipais e dos Condados (AFSCME) estão na linha de frente, resistindo ao atropelo de oligarcas que estão usando o chamado Departamento de Eficiência Governamental (Doge) para minar serviços públicos que são vitais para nossas comunidades.
A ação decisiva da AFGE para impedir o Doge de destruir o serviço público federal já levou a um aumento no número de novos membros. Estes esforços para minar serviços públicos essenciais ameaçam o bem-estar de milhões de pessoas, mas os nossos filiados permanecem firmes, demonstrando a resistência e a dedicação que definem o nosso movimento.
Neste momento desafiador, somos encorajados pelo fortalecimento do poder sindical nos Estados Unidos, com movimentos como o SEIU (União Internacional de Trabalhadores de Serviço) sob uma nova e forte liderança, que se reuniu com a AFL-CIO (Federação Americana do Trabalho e Congresso de Organizações Industriais) para propor reivindicações audazes e amplas aos trabalhadores. Esta ação coletiva está começando a mudar o debate sobre os direitos laborais e as condições de trabalho. Estamos mais unidos do que nunca na nossa luta por uma sociedade mais justa.
As lutas de todos os trabalhadores em todo o mundo estão profundamente interligadas. As tentativas da administração Trump de impor novas tarifas ao Canadá, ao México e à China são um exemplo claro dos danos causados por uma política que recorre à intimidação e à agressão. As decisões de retirar-se da COP (Conferência do Clima), de sair da Organização Mundial de Saúde, e de cortar o apoio da USAID (Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional) surgem num momento em que o mundo precisa de mais cooperação, generosidade e diplomacia, e não menos.
À medida que as forças da ganância e do poder procuram nos dividir, sabemos que temos muito mais em comum com os nossos companheiros trabalhadores em todo o mundo – aqueles que falam idiomas diferentes, têm aparência diferente e levam vidas diversas – do que com os oligarcas e as elites que conduzem a agenda da administração Trump.
O movimento operário global se soma aos trabalhadores nos Estados Unidos para enfrentar este desafio, seguindo com o avanço das reivindicações dos trabalhadores e se recusando a cair na armadilha de permitir que a direita controle as negociações com as suas ações selvagens e perigosas.
Continuamos unidos, agora e sempre, aos nossos sindicatos filiados e ao movimento operário em geral. O caminho não será fácil, mas sabemos que, graças à nossa força comum, nosso compromisso com a justiça e nossa solidariedade com todos os trabalhadores, continuaremos a avançar.
O poder do povo é maior que o poder de uns poucos.
Juntos, vamos garantir um futuro em que todos os trabalhadores sejam valorizados, respeitados e tratados com dignidade.
Condsef/Fenadsef