Com a maior paralisação desde 1995, trabalhadores da Petrobras caminham para 20 dias de greve. Repressão ao movimento é forte, mas adesão e apoio de outras categorias reforça luta contra privatizações e por soberania nacional
Desde 1995 não se via uma greve tão grande na Petrobras. Essa é a avaliação do movimento paredista coordenado pela FUP (Federação Única dos Petroleiros) e que já conta com adesão de mais de 21 mil trabalhadores. Além de querer barrar o processo de privatização da estatal, os petroleiros lutam contra a demissão em massa dos trabalhadores da Fábrica de Fertilizantes Nitrogenados do Paraná (Fafen-PR) e buscam suspender as medidas unilaterais que violam o Acordo Coletivo de Trabalho da categoria. A resistência acontece não sem grandes desafios.
Com aplicação de multas altíssimas e estabelecendo critérios que tornam inviável a organização dos trabalhadores em defesa de suas reivindicações, como obrigar 90% dos empregados a trabalhar, a Justiça tem sido um desses desafios. Além disso, reclamam os grevistas, os principais veículos de comunicação do país não tem pautado a greve e os representantes da empresa tem se recusado a ouvir o que os trabalhadores buscam, o que dificuldade e mesmo inviabiliza a busca por consenso que possa encerrar os impasses. Para a Condsef/Fenadsef, todo o cenário adverso pode ser um catalizador capaz de ampliar o movimento em defesa do setor público.
No final da semana passada, representantes dos trabalhadores fizeram um vídeo onde alertavam para as armadilhas que estão sendo conduzidas para tentar enfraquecer o movimento em defesa da Petrobras e contra a privatização de uma das maiores e mais importantes estatais do Brasil. Mencionando o risco de haver desabastecimento, os empregados pontuaram os movimentos da greve que só cresce e já atinge 60% das areas operacionais.
Não estamos à venda
Além dos petroleiros, outras categorias debatem iniciar paralisação de atividades. Empregados dos Correios podem aderir a greve a partir de março. No Executivo Federal, a maioiria dos servidores aprovou greve no dia 18 de março em plenária nacional da base da Condsef/Fenadsef. Também na plenária, a categoria votou e aprovou apoio irrestrito à greve dos petroleiros com envio de representantes a piques de greve instalados em todo o Brasil.
A Condsef/Fenadsef e suas filiadas participam, nessa terça, 18, de uma grande marcha nacional em defesa do emprego, da Petrobras e do Brasil que vai acontecer no Rio de Janeiro a partir das 16 horas. A luta contra as privatizações, em defesa dos serviços públicos e por soberania nacional é bandeira prioritária na luta dos servidores federais. Na base da Confederação há também estatais ameaçadas de privatização. Ceasa Minas e Conab já estão, inclusive, com processo avançado nessa direção e precisa ser freado. Na mesma situação estão trabalhadores da Casa da Moeda, Dataprev, Serpro, entre outras estatais importantes e estratégicas para o País.
No mundo, o movimento é de reestatização
É importante destacar que ao contrário do Brasil, onde a ordem que parte do governo Bolsonaro, comandada pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, e a de “privatizar tudo”, pelo mundo as coisas estão diferentes. Mais de 880 serviços considerados caros e mal feitos pela inciativa privada foram reestatizados mundo afora, muitos em países ditos potências capitalistas. O processo de privatizar não é, portanto, garantia de qualidade e eficiência como querem vender os representantes do governo. Ao contrário, é um risco grande para o conjunto da população que pode receber em troca serviços mais caros e piores. “Não podemos permitir que direitos constitucionais sejam tratados por esse governo como simples mercadoria. Isso é inaceitável”, rebateu o secretário-geral da Condsef/Fenadsef, Sérgio Ronaldo da Silva, que coordena a mobilização da maioria dos federais em conjunto com todas as entidades filiadas à Confederação.
Além do apoio à greve dos petroleiros, o calendário de atividades da categoria inclu outras ações. Depois de lançar campanha salarial e promover ato em defesa dos serviços públicos na Câmara dos Deputados, a categoria se prepara para fortalecer atividades do dia 8 de março, Dia Internacional da Mulher. Além disso, segue sendo organizada a unidade em torno do dia 18 de março que será um dia intenso de mobilização e paralisação de atividades em defesa dos serviços públicos, contra privatizações e por soberania nacional.