“Uma verdadeira violência”! Assim o secretário geral do Sindsep-AM, Walter Matos, classificou o corte de mais de R$ 600 milhões no orçamento do Ministério da Ciência e Tecnologia para o ano de 2022. Lamentando a falta de visão do governo Bolsonaro, ele disse que o país está sendo empurrado ladeira abaixo. “Cortar investimento da ciência é parar o Brasil, pois nada se desenvolve sem pesquisa e sem ciência. Então, é o empobrecimento da nação que está colocado num corte dessa natureza”, afirmou indignado.
O ‘abate’, ordenado pelo ministro da economia, Paulo Guedes, é tão absurdo que o próprio ministro Marcos Pontes, do governo Bolsonaro, o criticou, cobrando uma correção urgente no que chamou de “equivocado e ilógico”, tendo em vista o já reduzido orçamento da pasta. Pesquisadores da área concordam.
“Nos últimos anos, os recursos para C&T no país diminuíram de maneira vertiginosa. São anos e anos de retrocesso! O CNPq, principal agência de apoio à pesquisa do país, perdeu 90% do seu orçamento de fomento em dez anos, passando de R$263 milhões em 2010 para apenas R$ 24 milhões em 2020”, comentou a pesquisadora do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), e ex-diretora do sindicato, Sônia Alfaia. Ela destaca que “os recursos seriam extremamente importantes para apoiar bolsas e projetos de pesquisa prioritários”.
Desmonte das instituições
Para a diretoria do Sindsep-AM, trata-se do desmonte de todas as instituições que cuidam da ciência brasileira, majoritariamente financiada pelo setor público. “Hoje, o Brasil é o país que menos investe em ciência. Apenas 1,3% do PIB, enquanto a Coreia chega a 4,5 e Japão a 3,5. Então, esse corte é sem dúvida uma grande violência, e trará um prejuízo enorme à nação”, enfatiza Walter Matos, lembrando que essa ação do governo provoca uma grande fuga de cérebro do país, uma vez que seus melhores cientistas irão procurar outros países para trabalhar, dada a desvalorização da atividade em solo brasileiro.
“Vimos o exemplo, no enfretamento à pandemia, da importância da ciência e dos países que de fato investem nela. Enquanto muitos rapidamente desenvolveram suas vacinas, no Brasil foi muito diferente. Então, essa manobra é só mais uma demonstração do que pensa esse governo sobre o serviço público e do que vai acontecer caso a PEC 32 seja aprovada no Congresso, pois uma coisa não se descola da outra. Faz parte da política de desmonte dessa conjuntura que estamos vivendo”, avalia Matos.
Situação local
A pesquisadora Sônia Alfaia, destaca que, no Inpa, a situação não é diferente do restante dos órgãos de ciência no país! Após mais de uma década de investimentos crescentes em C&T, nos últimos seis anos, os recursos destinados ao Instituto têm diminuído acentuadamente, chegando a uma situação bastante crítica em 2021, pois não há recursos para se fazer uma simples excursão de campo!
“Os laboratórios estão deteriorados, os equipamentos sucateados e não se tem recursos para comprar insumos. A ciência, a tecnologia e a inovação são objetivos nacionais prioritários, e são especialmente importantes na Amazônia, onde se busca um caminho de desenvolvimento com o máximo da floresta em pé”, afirma.
A pesquisadora segue informando que, além da extrema falta de recursos para trabalhar, os pesquisadores ainda tem que lidar com o negacionismo científico, com as ameaça constantes contra o meio ambiente e contra as populações indígenas com as quais trabalham.
“Atualmente, 40% dos 540 servidores do Instituto já cumprem abono permanência, sendo que não há sinais de recomposição desse quadro efetivo (que já chegou a 1200 em momentos anteriores). Para suprir essa deficiência de servidores, o Inpa contava com uma cota de bolsas para apoio às pesquisas, o que também diminuiu acentuadamente nos últimos anos”, revela.
Aliado a tudo isso, está a falta de uma gestão eficiente, de diálogo e de transparência das duas últimas diretorias do Instituto. “Se essa atual situação não mudar, estão em risco décadas de avanço na formação de recursos humanos e na infraestrutura de pesquisa e inovação, ameaçando a sobrevivência do próprio Inpa”, finaliza Alfaia.