Contrariando todas as recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS), autoridades e profissionais do setor, o presidente Jair Bolsonaro fez ontem um pronunciamento em rede nacional solicitando que as pessoas fora dos grupos de risco para a Covid-19 retomassem suas rotinas de trabalho. As hashtags #BolsonaroGenocida e #NãoEscuteBolsonaro ganharam destaque nas redes. Os impactos negativos na economia têm sido o principal argumento do líder do Executivo. Lideranças políticas, incluindo os presidentes da Câmara e do Senado divulgaram comunicados de alerta para que a população respeite as orientações de isolamento social. Atendendo as recomendações mundiais, a Condsef/Fenadsef enviou um ofício ao ministro da Economia, Paulo Guedes, solicitando que o teletrabalho no setor público seja estendido ao maior número de setores, exceto, claro, aqueles essenciais nesse momento. No Rio Grande do Sul, o Sindiserf-RS, entidade filiada à Confederação, conseguiu liminar na Justiça garantido teletrabalho aos servidores do Incra no estado.
Para cumprir as medidas de isolamento social, diversos governadores publicaram decretos fechando grande parte do comércio em praticamente todas as capitais do País. Muitas cidades acompanham esses decretos. As medidas, asseguram autoridades da area de saúde, são essenciais para conter a curva do contágio da doença, ainda sem tratamento, e com isso, buscam evitar ao máximo o colapso no sistema de saúde brasileiro. A curva do contágio no País segue crescente e já são 57 morte e mais de 2.200 casos confirma.
A proposta do governo para a classe trabalhadora envolve a redução de salários, demissões e tem sido refutada por diversos especialistas da area econômica. Há saídas. A Condsef/Fenadsef defende a revogação imediata da Ec 95/16, do teto dos gastos, que congela investimentos públicos por 20 anos. A entidade também defende a suspensão do pagamento da dívida pública, a taxação de grandes fortunas e investimento em assistência social.
O ex-banqueiro e um dos economistas mais respeitados do Brasil, Eduardo Moreira, divulgou essa semana um conjunto de propostas que poderiam ser seguidas pelo governo. Moreira ressalta que em uma semana seria possível aplicar um pacote que mantém empregos e protege os milhões de trabalhadores desempregados, na informalidade e em situação de vulnerabilidade no Brasil. Isso daria tempo para o controle mais eficaz da propagação do vírus pudesse ser feito.
O pacote custaria cerca de R$100 bilhões e envolve a criação de bolsa auxílio provisória de mais de R$1000 para os mais afetados pela crise, já cadastrados inclusive pelo governo, além de contrapartidas de empresas prestadoras de serviços e a revisão da taxa de juros pelo Banco Central. Dos R$100 bi, pelo menos metade retornaria ao Estado em forma de impostos, assegura o economista.
Para Moreira a conta fecha, mas no lugar disso o governo prefere conceder auxílio a bancos e sem qualquer contrapartida. “Num momento como esse em que gera-se menos riqueza só há um jeito de salvar pessoas: distribuir essa riqueza de maneira mais eficiente”, destacou o ex-banqueiro.
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