Com vasta experiência adquirida com grande quantidade de viagens pelos rios da Amazônia, o engenheiro agrônomo e sanitarista Raul Amorim, em parceria com a educadora em saúde Auxiliadora Barroso, escreveram o livro ‘Malária no Amazonas: Registros e Memórias’, lançado em março de 2017, pela editora Valer.
Além de sanitarista, Raul, de 74 anos, também é malariologista e, durante a década de 1960, trabalhou bastante com o programa de combate à malária no Amazonas. “Vivenciamos todo o trabalho, pois íamos com as equipes visitar os principais locais com os focos da doença em todo o interior do Estado. Éramos técnicos e viajávamos muito naquela época, e em todas as margens dos rios, hospitais e postos de saúde havia muitos pacientes”, afirma.
O programa de erradicação de malária da extinta Superintendência de Campanhas de Saúde Pública (Sucam), atual Fundação Nacional de Saúde (Funasa) percorria todos os rios do Estado na tentativa de levar o tratamento adequado a quem contraía a doença, mas não tinha condições de se locomover ou até mesmo de conseguir os medicamentos necessários.
O livro ‘Malária no Amazonas: Registros e Memórias’ relata as principais dificuldades dos pacientes. “Alguns dos servidores da Sucam até iam para outros Estados, como Roraima e Rondônia, para auxiliar no combate à doença, visitando os hospitais e também levantando os dados estatísticos. Eram poucos trabalhadores naquela época, o que tornava as nossas atividades um pouco mais difíceis”, relembra Raul.
Um dos principais objetivos da obra é não deixar o combate à doença cair no esquecimento. “A nação tem memória curta, os governantes atuais se esquecem do passado. Auxiliadora e eu fizemos questão de recuperar todo esse trabalho não só nosso, mas também de pessoas importantes como Carlos Chagas e Oswaldo Cruz, por exemplo, ainda no início do século XX”, destaca.
Maiores dificuldades
No livro, Raul e Auxiliadora contam como antigamente o trabalho de combate à malária era difícil. As campanhas demoravam mais por conta do transporte fluvial. “Havia poucas lanchas, o que dificultava nosso trabalho no interior. Além disso, ainda era necessário fazer a manutenção desses equipamentos e nem sempre havia oficinas disponíveis”, informa.
Em Manaus, as ações aconteciam com maior frequência em bairros como Alvorada, zona Centro-Oeste, Compensa, zona Oeste, Japiim, zona Sul, por conta da forte presença de lagos e igarapés. Até hoje, os casos apresentam maior incidência em períodos de verão amazônico, diferente da Dengue, que costuma registrar mais ocorrências na temporada chuvosa.
“O mosquito da malária é diferente do mosquito da dengue. O primeiro ataca à noite, enquanto o segundo costuma atacar durante o dia” explica Raul. “O mosquito da dengue se cria em qualquer ambiente de água. Já o da malária apenas em lagos, igarapés e que não estejam poluídos”, acrescenta o mestre.
Em caso de suspeita da doença, Raul recomenda a avaliação médica e como prevenção o uso de mosquiteiros, especialmente em épocas de calor. Os meses de julho, agosto e setembro, que coincidem com o período de vazante dos rios, são os mais propícios para acontecer os casos de malária.