A Fundação Perseu Abramo (FPA) deu início à Jornada de Atividades sobre o Bicentenário da Independência do Brasil, no sábado (5). Uma série de debates serão realizados semanalmente até setembro. A conferência de abertura, que teve como tema “200 anos depois, a luta do Brasil pela soberania nacional, pela integração latino-americana e por uma nova ordem mundial”, contou com a presença da coordenação da Articulação dos Povos indígenas do Brasil (Apib), Sônia Guajajara, a escritora Conceição Evaristo e a ex-presidenta Dilma Rousseff (PT).
Durante o evento, a líder indígena questionou a independência construída a partir da imposição da cultura dos colonizadores que, ainda hoje, violenta corpos não-brancos. “Se o Brasil fosse realmente um país independente, será que imigrantes negros, congoleses seriam espancados até a morte por exigir seus direitos trabalhistas? Se o Brasil fosse realmente independente, em pleno século 21, indígenas seriam incendiados e degolados por pura diversão? A verdade é que a barbárie colonizadora ainda está muito presente e muito viva, boiando em nossos esgotos e quando menos esperamos ela está sentada em nossas mesas”, contestou Sônia Guajajara.
A soberania e a violação de corpos não-brancos também foram observadas pela escritora Conceição Evaristo ao recitar o poema “Certidão de Óbito”, de sua autoria. “Os ossos de nossos antepassados colhem as nossas perenes lágrimas pelos mortos de hoje. Os olhos de nossos antepassados, negras estrelas tingidas de sangue, elevam-se das profundezas do tempo, cuidando de nossa dolorida memória. A terra está coberta de valas e a qualquer descuido da vida, a morte é certa. A bala não erra o alvo e no escuro, um corpo negro bambeia e dança. A certidão de óbito, os antigos sabem, veio lavrada desde os negreiros”, reproduziu.
Independência em xeque
O descaso com o meio ambiente, assim como o racismo, ameaça a soberania do Brasil. É o que afirmou a ex-presidenta Dilma Rousseff durante o evento, A petista ressaltou ainda que a condução atual das empresas públicas, levadas à privatização, também coloca em xeque a independência do país.
“Privatizar a empresa, esquartejar a Petrobras e vendê-la por partes, ameaça a soberania desse país porque nos torna dependentes do exterior. Então é um crime contra o país. É como se você tirasse do Brasil as suas mãos, seu cérebro, a capacidade do Estado brasileiro agir em prol de seu povo, voltar a ter indústria e condições de garantir que esse povo seja educado. Porque a nossa condição para sair da pobreza é a mesma para chegar à riqueza: educação de qualidade para todo o povo desse país. É isso que estávamos querendo fazer com o petróleo, transformá-lo em um passaporte para o futuro”, explicou a ex-presidenta.
Próximas atividades
Segundo a diretora da FPA e um das curadoras da jornada de atividades, Elen Coutinho, os eventos têm como objetivo contestar a narrativa hegemônica e dar visibilidade à luta de trabalhadores e trabalhadoras na construção da independência do país. “Então refletir sobre esses 200 anos no pós-independência, em que em parte dele houve a manutenção da escravidão, é uma reflexão para avançar nas lutas populares e construir aí 200 anos de independência real para o povo trabalhador brasileiro”, justificou.
A próxima atividade será no dia 19 de fevereiro com o tema: ‘Independência e Escravidão’. A transmissão será realizada pelo canal da Fundação Perseu Abramo no Youtube.
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Rádio Brasil Atual