Os dados produzidos pela área da saúde sobre a Covid-19 e divulgados, muitos deles, pelo próprio Ministério (como o índice de mortalidade a partir de recorte étnico-racial e social) deixam claro a marcha da doença. A mortalidade se acelera entre negras e negros e entre os mais pobres, marcando assim sua chegada nas camadas mais expostas pela precariedade de suas condições de vida (pouco acesso à informação, dificuldade econômica para manutenção do isolamento social, falta de acesso à saneamento e serviços de saúde regulares, precárias condições de moradia e de higiene).
Uma trágica tendência prevista por estudiosos bem antes de chegarmos ao absurdo estágio atual, com mais de 26 mil mortes. E, também com grande antecedência, a ciência apontou caminhos para mitigar os danos que, caso tomados, poderiam reduzir o tamanho de nossa tragédia, como ocorreu na maior parte de nossos vizinhos latino americanos. Mas por que aqui foi diferente?
Porque o governo federal (e muitos de seus aliados em estados e, principalmente, municípios) resolveu não só não seguir as recomendações da ciência como sabotá-las, adotando posturas em sua contramão. Afinal, temos ataques ao distanciamento social e a inação para sanar a indigência econômica dos mais frágeis (trabalhadores pobres e pequenas empresas) – o “auxílio” de 600 reais é um escárnio pelo valor e pela dificuldade de pagamento que levou milhares de pessoas a perigosas acumulações desnecessárias. A isso, soma-se um cabo de guerra de Jair com a ciência, em sua defesa criminosa e absurda de uma medicação que não funciona e, em muitos casos, agrava a condição do paciente.
Desinformando, atacando a ciência ao minimizar a doença, ignorando a emergência social e vociferando contra o necessário isolamento, o governo federal e seus asseclas contribuíram para a situação de descontrolada expansão da pandemia. Mas por quê?
Há várias ilações possíveis. Mas a forma como a crise foi conduzida pelo governo federal nos leva a vislumbrar uma intencionalidade nesses atos. Comandados por um presidente que, durante sua vida pública, fez vários discursos eugenistas, e cientes de que a pandemia atinge de maneira mais violenta os setores mais frágeis da população (pobres, majoritariamenre negros, idosos, doentes) – os “indesejáveis” do ultraliberalismo sem empatia que o Sr. Guedes encarna – os governos bolsonaristas parecem ver esse momento como uma possibilidade de “faxina social”.
Exagero? Talvez, mas como não pensar nisso quando, sem qualquer justificativa médica, o presidente (que reiteradas vezes deu de ombros para a morte de idosos) defende o uso da não recomendada (e perigosa) cloroquina nas populações mais pobres e idosas? Quando uma prescrição médica é definida pela condição social do paciente?
Para nós do SOS C&T essa tragédia tem muito a cara de política eugenista. E a ciência é a ferramenta necessária para combater esse absurdo.
Precisamos informar a população e cobrar dos governantes o respeito à ciência.
DESINFORMAÇÃO É POLITICA EUGENISTA! DEFENDER O CORRETO USO DA CIÊNCIA É DEFENDER VIDAS!
S.O.S Ciência