A data oficial da abolição da escravidão no Brasil, o 13 de Maio, é uma data que, para a população negra, não é um dia de comemoração. Ao contrário, é uma data de reflexão sobre uma medida tomada, à época, levando em consideração interesses capitalistas e que, na prática, não trouxe liberdade aos negros e negras e sim, perpetuou o racismo estrutural existente na sociedade.
Para reforçar esse posicionamento e chamar a atenção para a ‘herença’ deixada pela Princesa Izabel, que ao assinar a Lei, não editou nenhuma medida para garantir uma sobrevivência digna para os negros e negras sequestrados no continente africano, escravizados durante anos, a secretaria de Combate ao Racismo da CUT, publicou artigo, assinados pelas secretárias Maria Julia Reis Nogueira, secretária de Combate ao Racismo da CUT e Nadilene Nascimento de Sales, secretária-adjunta de Combate ao Racismo da CUT.
Veja abaixo:
O 13 de Maio é uma data importante pelo simbolismo que adquiriu, mas ainda precisa de muita análise e compreensão da sociedade brasileira.
A abolição em 1888 foi o desfecho de um longo processo de luta pelo fim da escravidão, mas não de inserção da população negra na sociedade brasileira. Uma abolição inacabada, uma liberdade incompleta, assim foi a história da abolição dos negros escravizados no Brasil.
O Brasil foi o último país do ocidente a abolir a escravidão e a lei que os libertou formalmente não trouxe reparações históricas. Ao contrário, os libertos foram abandonados, sendo em seguida, marginalizados.
Até a escravidão ser finalmente extinta, muitas pessoas escravizadas já tinham conseguido – por seus próprios meios e esforços – suas cartas de alforria. E após a assinatura da lei, a população negra não foi indenizada e o país permaneceu sem criar mecanismos de amparo e inclusão na sociedade e no mercado de trabalho aos ex-escravizados e seus descendentes.
A abolição enquanto processo social, de mobilização civil, foi fortemente protagonizada por pessoas negras, mas a historiografia insiste em manter esse apagamento das lutas negras por liberdade, como por exemplo os abolicionistas que são referências como André Rebouças, José do Patrocínio, Ferreira de Menezes e o pioneiro Luiz Gama.
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“O dia 13 de Maio deve ser visto como um dia de denúncia contra pela condição de vulnerabilidade que a população negra enfrenta ainda hoje. A data deve servir para lembrar que a população negra continua marginalizada e o racismo persiste em todas as estruturas sociais.
Precisamos olhar para esse dia como um ponto de partida para a transformar o significado de pertencimento das pessoas negras na sociedade brasileira. Não podemos depois de mais de cem anos seguir com a abolição inacabada.
Nós da CUT lutamos pelo fim do racismo no trabalho e na vida para que pessoas negras possam ter direitos não só a um trabalho digno, como também que a cor da pele não seja o balizador do lugar das pessoas na sociedade.
Precisamos alcançar a real liberdade para pessoas negras na sociedade brasileira, buscando a igualdade de direitos e oportunidades entre negros e não negros.”
Por Maria Julia Reis Nogueira, secretária de Combate ao Racismo da CUT e Nadilene Nascimento de Sales, secretária-adjunta de Combate ao Racismo da CUT.
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